14 de jun. de 2013

O Todo IV

Sócrates

Observe todo o peso que você está carregando em conhecimento, informações...
A aprendizagem vai para o ego; a aprendizagem fortalece o ego.
Quanto mais culto um homem, mais difícil é viver com ele, mais difícil é se relacionar com ele e é mais difícil, para ele, alcançar o templo. Quanto mais você souber, menor é a possibilidade da devoção acontecer.
Toda a religião é um processo de desaprendizagem. Aprender é o processo do ego, desaprender é o processo do não ego. Quando você é erudito, seu barco fica cheio, cheio de si mesmo.

Foi o que aconteceu... O Mulá tinha uma balsa e, quando os tempos não eram bons, ele levava os passageiros de uma margem à outra.
Um dia, um grande estudioso, um gramático, um sábio, estava atravessando em sua balsa. O especialista, o erudito, perguntou ao Mulá: “Você conhece o Alcorão? Você aprendeu as escrituras”?
E o Mulá disse: “Não, não tive tempo”. O estudioso disse: “Metade da sua vida foi desperdiçada”.
Então, de repente, surgiu uma tempestade e o barquinho foi apanhado pelas ondas, a qualquer momento eles poderiam se afogar. Então perguntou o Mulá: “Professor, o senhor sabe nadar”?
O homem estava com muito medo, suando. Ele disse: “Não”.
E o Mulá respondeu: “Então, toda a sua vida foi desperdiçada. Eu estou indo”.

Perceba... Agora, este barco não pode mais ir para a outra margem. Mas as pessoas pensam que a aprendizagem pode se tornar um barco, ou pode se tornar um substituto para a natação. Não! As escrituras não podem se tornar barcos. Elas são muito pesadas. Você pode submergir nelas, mas não pode atravessar o rio. Desaprender fará com que você fique leve; desaprender o tornará inocente novamente.
O fenômeno mais belo, o maior êxtase acontece quando você não sabe – há um silêncio quando você não sabe. Alguém faz uma pergunta e você não sabe. A vida é um enigma, e você não sabe. Quando você não sabe existe um deslumbramento. E a mais profunda qualidade religiosa é a capacidade de se maravilhar. Um homem que sabe não pode se maravilhar, e sem isso ninguém alcançou o divino. É o coração deslumbrado para o qual tudo é um mistério.
Perceba... Você está aqui. É um mistério tão grande – você está aqui por razão nenhuma. E se você não estivesse aqui, que diferença isso faria?
Esta mera existência, esse ar que entra e sai dos pulmões, este momento em que você está aqui, me ouvindo, a brisa, os pássaros, esse momento em que você está vivo, é um mistério. E se você conseguir enfrenta-lo sem nenhum conhecimento, você vai penetrar dentro dele. Se você enfrentar esse momento com conhecimento e disser: “Eu sei, eu sei a resposta”, as portas vão fechar – não por causa do mistério, mas por causa do seu conhecimento, das suas teorias, da sua filosofia, da sua teologia, do seu cristianismo, do seu hinduísmo – eles fecham a porta.
Um homem que pensa que sabe não sabe. Diz Sócrates: Quando um homem realmente sabe, ele sabe apenas uma coisa, que ele não sabe nada.
O mestre abandonou tudo o que o mundo lhe ensinou, tudo o que a sociedade lhe ensinou, tudo o que seus pais e os utilitaristas lhe ensinaram. Ele se tornou novamente uma criança, uma criança pequena. Seus olhos estão novamente cheios de deslumbramento. Ele olha ao redor e em toda a parte há mistério.
O ego mata o mistério. Seja o ego de um cientista ou de um estudioso, não faz diferença. O ego diz: “Eu sei”, e diz: “Se eu não sei agora, mais cedo ou mais tarde vou saber”. O ego diz que não há nada de desconhecido.
O ego não deixa que reste nenhum mistério no mundo. E, se não há mistério em torno de você, não pode haver mistério dentro de você.

Sua natureza penetra até a raiz no Uno.
Sua vitalidade, sua força,
Escondem-se no caminho secreto.

Sua natureza penetra até a raiz no Uno... Perceba, o ego existe na cabeça, lembre-se, e você carrega a cabeça lá em cima, nas alturas. A raiz está simplesmente no outro polo do seu ser.
Chuang Tzu e Lao Tsé costumavam dizer: Concentre-se no dedo do pé. Feche os olhos e vá para o dedo do pé e permaneça ali. Isso lhe dá um equilíbrio. A cabeça lhe provocou muito desequilíbrio. Mas o dedo do pé...? Parece que eles estão brincando. Eles estão falando sério, não estão brincando. Saia da cabeça, ela não é a raiz, mas ficamos demais na cabeça.
Sua natureza penetra até a raiz, até a própria fonte. A onda vai mais fundo no oceano, para o Uno. E, lembre-se: a fonte é uma só. Você está separado aí, eu estou separado aqui, mas basta olhar um pouco mais fundo, para as raízes, e nós somos um, somos como ramos da mesma árvore. Olhe para os ramos e eles estão separados, mas no fundo são um só.

Quanto mais fundo você for, cada vez menos multiplicidade vai encontrar e cada vez mais unidade. No mais profundo tudo é uma coisa só.

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