Sócrates |
Observe
todo o peso que você está carregando em conhecimento, informações...
A
aprendizagem vai para o ego; a aprendizagem fortalece o ego.
Quanto
mais culto um homem, mais difícil é viver com ele, mais difícil é se relacionar
com ele e é mais difícil, para ele, alcançar o templo. Quanto mais você souber,
menor é a possibilidade da devoção acontecer.
Toda
a religião é um processo de desaprendizagem. Aprender é o processo do ego,
desaprender é o processo do não ego. Quando você é erudito, seu barco fica
cheio, cheio de si mesmo.
Foi
o que aconteceu... O Mulá tinha uma balsa e, quando os tempos não eram bons,
ele levava os passageiros de uma margem à outra.
Um
dia, um grande estudioso, um gramático, um sábio, estava atravessando em sua
balsa. O especialista, o erudito, perguntou ao Mulá: “Você conhece o Alcorão? Você aprendeu as escrituras”?
E
o Mulá disse: “Não, não tive tempo”. O estudioso disse: “Metade da sua vida foi
desperdiçada”.
Então,
de repente, surgiu uma tempestade e o barquinho foi apanhado pelas ondas, a
qualquer momento eles poderiam se afogar. Então perguntou o Mulá: “Professor, o
senhor sabe nadar”?
O
homem estava com muito medo, suando. Ele disse: “Não”.
E
o Mulá respondeu: “Então, toda a sua vida foi desperdiçada. Eu estou indo”.
Perceba... Agora, este barco não pode
mais ir para a outra margem. Mas as pessoas pensam que a aprendizagem pode se
tornar um barco, ou pode se tornar um substituto para a natação. Não! As
escrituras não podem se tornar barcos. Elas são muito pesadas. Você pode
submergir nelas, mas não pode atravessar o rio. Desaprender fará com que você
fique leve; desaprender o tornará inocente novamente.
O fenômeno mais belo, o maior êxtase
acontece quando você não sabe – há um silêncio quando você não sabe. Alguém faz
uma pergunta e você não sabe. A vida é um enigma, e você não sabe. Quando você
não sabe existe um deslumbramento. E a mais profunda qualidade religiosa é a
capacidade de se maravilhar. Um homem que sabe não pode se maravilhar, e sem
isso ninguém alcançou o divino. É o coração deslumbrado para o qual tudo é um
mistério.
Perceba... Você está aqui. É um
mistério tão grande – você está aqui por razão nenhuma. E se você não estivesse
aqui, que diferença isso faria?
Esta mera existência, esse ar que
entra e sai dos pulmões, este momento em que você está aqui, me ouvindo, a
brisa, os pássaros, esse momento em que você está vivo, é um mistério. E se
você conseguir enfrenta-lo sem nenhum conhecimento, você vai penetrar dentro
dele. Se você enfrentar esse momento com conhecimento e disser: “Eu sei, eu sei
a resposta”, as portas vão fechar – não por causa do mistério, mas por causa do
seu conhecimento, das suas teorias, da sua filosofia, da sua teologia, do seu
cristianismo, do seu hinduísmo – eles fecham a porta.
Um homem que pensa que sabe não sabe.
Diz Sócrates: Quando um homem realmente sabe, ele sabe apenas uma coisa, que
ele não sabe nada.
O mestre abandonou tudo o que o mundo
lhe ensinou, tudo o que a sociedade lhe ensinou, tudo o que seus pais e os
utilitaristas lhe ensinaram. Ele se tornou novamente uma criança, uma criança
pequena. Seus olhos estão novamente cheios de deslumbramento. Ele olha ao redor
e em toda a parte há mistério.
O ego mata o mistério. Seja o ego de
um cientista ou de um estudioso, não faz diferença. O ego diz: “Eu sei”, e diz:
“Se eu não sei agora, mais cedo ou mais tarde vou saber”. O ego diz que não há
nada de desconhecido.
O ego não deixa que reste nenhum
mistério no mundo. E, se não há mistério em torno de você, não pode haver
mistério dentro de você.
Sua
natureza penetra até a raiz no Uno.
Sua
vitalidade, sua força,
Escondem-se
no caminho secreto.
Sua natureza penetra até a raiz no
Uno... Perceba, o ego existe na cabeça, lembre-se, e você carrega a cabeça lá
em cima, nas alturas. A raiz está simplesmente no outro polo do seu ser.
Chuang Tzu e Lao Tsé costumavam dizer:
Concentre-se no dedo do pé. Feche os olhos e vá para o dedo do pé e permaneça
ali. Isso lhe dá um equilíbrio. A cabeça lhe provocou muito desequilíbrio. Mas
o dedo do pé...? Parece que eles estão brincando. Eles estão falando sério, não
estão brincando. Saia da cabeça, ela não é a raiz, mas ficamos demais na
cabeça.
Sua natureza penetra até a raiz, até a
própria fonte. A onda vai mais fundo no oceano, para o Uno. E, lembre-se: a
fonte é uma só. Você está separado aí, eu estou separado aqui, mas basta olhar
um pouco mais fundo, para as raízes, e nós somos um, somos como ramos da mesma
árvore. Olhe para os ramos e eles estão separados, mas no fundo são um só.
Quanto mais fundo você for, cada vez
menos multiplicidade vai encontrar e cada vez mais unidade. No mais profundo
tudo é uma coisa só.
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