Aconteceu uma vez... Um rei construiu
um palácio, um palácio feito de milhões de espelhos – todas as paredes estavam
cobertas de espelhos. Um cão entrou no palácio e viu milhões de cães ao redor.
Assim, sendo um cão muito inteligente, ele começou a latir para se proteger dos
milhões de cães em volta dele. Sua vida estava em perigo. Ele deve ter ficado
tenso, e começou a latir. E quando ele começou a latir, os milhões de cães
começaram a latir também.
De manhã, o cão foi encontrado morto.
Lá estava ele, sozinho, havia apenas espelhos. Ninguém estava lutando com ele,
não havia ninguém ali para lutar, mas ele se olhou no espelho e ficou com medo.
E quando ele começou a lutar, o reflexo do espelho também começou a luta. Ele
estava sozinho, com milhões e milhões de cães ao redor. Você pode imaginar o
inferno que ele viveu naquela noite?
Pois é, você está vivendo nesse
inferno agora, milhões e milhões de cães estão lutando em torno de você. Em
cada espelho, em cada relacionamento, você vê o inimigo. Um homem desperto não
encontra inimigos em lugar nenhum porque ele não é seu inimigo interior. Um
homem desperto encontra todos os espelhos vazios, todos os barcos vazios,
porque o seu próprio barco está vazio.
Um homem desperto é espelhado, ele não
tem rosto próprio, então como você pode espelhar, como você pode refletir um
homem desperto? Todos os espelhos permanecem em silêncio. Quando um ser desperto
passa – nenhuma pegada é deixada para trás, nenhum rastro. Todos os espelhos
permanecem em silêncio. Nada o reflete, porque ele não está ali, ele está
ausente.
Quando o ego desaparece, você fica
ausente, e então você fica inteiro. Quando o ego existe, você está presente, e
é apenas uma pequenina parte, uma parte muito pequena, muito feia. A parte será
sempre feia. É por isso que temos de tentar torna-la bonita, de muitas
maneiras.
Perceba... Quando você arranca uma
flor, ela deixa de ser linda, a glória se foi. Era linda só um instante atrás,
quando estava com as raízes, com a terra. Desenraizado você flutua como egos.
Um homem com ego não pode ser bonito.
A beleza acontece para aqueles que não têm ego. Então a beleza tem algo de
desconhecido, algo imensurável.
Lembre-se: a feiura pode ser medida.
Ela tem limites. A beleza, a chamada beleza, pode ser medida. Mas a verdadeira
beleza não pode ser medida – não tem limites. É misteriosa – ela nunca acaba.
Mas o ego continua tentando ser
bonito. De algum modo você se lembra da beleza do Todo; de algum modo você se
lembra do silêncio do ventre; de algum modo, lá no fundo, você sabe como é a
felicidade de ser uno, de estar em unidade com a existência. Por isso, muitos
desejos surgem. Você sabe como é a beleza de um deus e você tem que viver como
um mendigo. Então o que você faz? Você cria faces, máscaras, você pinta a si
mesmo. Mas bem lá no fundo a feiura permanece, porque todas as tintas são
apenas tintas.
Apenas no todo você é belo. Apenas no
todo você é adorável. Apenas no todo a graça é possível.
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