11 de jun. de 2013

O Todo III


Aconteceu uma vez... Um rei construiu um palácio, um palácio feito de milhões de espelhos – todas as paredes estavam cobertas de espelhos. Um cão entrou no palácio e viu milhões de cães ao redor. Assim, sendo um cão muito inteligente, ele começou a latir para se proteger dos milhões de cães em volta dele. Sua vida estava em perigo. Ele deve ter ficado tenso, e começou a latir. E quando ele começou a latir, os milhões de cães começaram a latir também.
De manhã, o cão foi encontrado morto. Lá estava ele, sozinho, havia apenas espelhos. Ninguém estava lutando com ele, não havia ninguém ali para lutar, mas ele se olhou no espelho e ficou com medo. E quando ele começou a lutar, o reflexo do espelho também começou a luta. Ele estava sozinho, com milhões e milhões de cães ao redor. Você pode imaginar o inferno que ele viveu naquela noite?
Pois é, você está vivendo nesse inferno agora, milhões e milhões de cães estão lutando em torno de você. Em cada espelho, em cada relacionamento, você vê o inimigo. Um homem desperto não encontra inimigos em lugar nenhum porque ele não é seu inimigo interior. Um homem desperto encontra todos os espelhos vazios, todos os barcos vazios, porque o seu próprio barco está vazio.
Um homem desperto é espelhado, ele não tem rosto próprio, então como você pode espelhar, como você pode refletir um homem desperto? Todos os espelhos permanecem em silêncio. Quando um ser desperto passa – nenhuma pegada é deixada para trás, nenhum rastro. Todos os espelhos permanecem em silêncio. Nada o reflete, porque ele não está ali, ele está ausente.
Quando o ego desaparece, você fica ausente, e então você fica inteiro. Quando o ego existe, você está presente, e é apenas uma pequenina parte, uma parte muito pequena, muito feia. A parte será sempre feia. É por isso que temos de tentar torna-la bonita, de muitas maneiras.
Perceba... Quando você arranca uma flor, ela deixa de ser linda, a glória se foi. Era linda só um instante atrás, quando estava com as raízes, com a terra. Desenraizado você flutua como egos.
Um homem com ego não pode ser bonito. A beleza acontece para aqueles que não têm ego. Então a beleza tem algo de desconhecido, algo imensurável.
Lembre-se: a feiura pode ser medida. Ela tem limites. A beleza, a chamada beleza, pode ser medida. Mas a verdadeira beleza não pode ser medida – não tem limites. É misteriosa – ela nunca acaba.
Mas o ego continua tentando ser bonito. De algum modo você se lembra da beleza do Todo; de algum modo você se lembra do silêncio do ventre; de algum modo, lá no fundo, você sabe como é a felicidade de ser uno, de estar em unidade com a existência. Por isso, muitos desejos surgem. Você sabe como é a beleza de um deus e você tem que viver como um mendigo. Então o que você faz? Você cria faces, máscaras, você pinta a si mesmo. Mas bem lá no fundo a feiura permanece, porque todas as tintas são apenas tintas.

Apenas no todo você é belo. Apenas no todo você é adorável. Apenas no todo a graça é possível.

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