Sutra:
Onde
posso encontrar um homem que se esqueceu das palavras?
É
com ele que eu gostaria de conversar.
Pode não ser tão fácil convencê-lo a
falar, mas só de estar perto dele, só se sentar ao seu lado, já seria uma
comunhão, será uma comunhão, a mais profunda possível. Dois corações se fundem
um no outro.
Mas por que esse vício pelas palavras? Porque o símbolo parece ser real. Repita uma coisa, e aos poucos você vai
esquecer que você não sabe. A repetição vai lhe dar a sensação de que você
sabe.
Perceba... Se você vai ao templo pela
primeira vez, vai na ignorância. É duvidoso. Você não sabe se esse templo
realmente contém alguma coisa, se Deus está lá ou não. Mas vá todos os dias e
viva repetindo o ritual, as orações. Com repetições contínuas a coisa vai para
dentro da mente e você começa a sentir que esse é o templo, que Deus vive ali,
que essa é a morada de Deus.
É por isso que cada religião insiste
em ensinar as crianças o mais cedo possível, porque depois da infância é muito
difícil converter as pessoas para que passem a fazer coisas tolas, é muito
difícil.
A criança deve ser convertida para ser
hindu, muçulmana, cristã ou qualquer outra coisa, comunista, teísta ou ateísta,
não faz diferença, mas agarre a criança antes dos sete anos.
Até essa idade a criança aprende quase
cinquenta por cento de tudo o que ela vai aprender em toda a sua vida.
E esses cinquenta por cento são muito
significativos, porque se tornam a base. Ela vai aprender muitas coisas, mas
toda a estrutura será baseada no conhecimento que recebeu quando era criança.
E, nesse momento, antes dos sete anos, a criança não tem lógica, não é
argumentativa. Ela está confiando, explorando, acreditando. Ela não pode deixar
de acreditar, porque não sabe o que é crença, nem o que é descrença.
Quando a criança nasce, ela não tem
mente para discutir. Ela não sabe o que é argumento. Tudo o que você diz é
verdade, parece verdade, e, se você repetir, a criança fica hipnotizada. É
assim que todas as religiões têm explorado a humanidade. A criança tem que ser
forçada a um padrão e, quando o padrão está profundamente enraizado, nada pode
ser feito. Mesmo se mais tarde a criança mudar de religião, nada vai mudar.
Converta um cristão ao hinduísmo e lá
no fundo ele continuará a ser um cristão, porque você não pode mudar a base.
Você não pode fazer dele uma criança novamente, você não pode fazê-lo inocente.
Esse momento já se foi.
Se a Terra um dia for religiosa, então
não vamos ensinar mais o cristianismo, o hinduísmo, o islamismo ou o budismo.
Esse é um dos maiores crimes cometidos. Nós vamos ensinar religiosidade, vamos
ensinar meditação, mas não seitas. Não vamos ensinar palavras e crenças, vamos
ensinar um modo de vida, vamos ensinar felicidade, vamos ensinar êxtase.
Nós vamos ensinar como olhar as
árvores, como dançar com as árvores, como sermos mais sensíveis, como sermos
mais vivos e desfrutarmos das bênçãos que a existência nos deu – mas não
palavras, nem crenças, nem filosofias, nem teologias. Vamos deixar as crianças
na natureza; esse é o templo, a igreja de verdade.
Vamos ensinar as crianças a olhar para
as nuvens flutuantes, para o nascer do sol, para a lua à noite. Vamos
ensiná-las a amar, e vamos ensiná-las a não criar barreiras para o amor, para a
meditação, para a religiosidade. Vamos ensiná-las a ser abertas e vulneráveis,
não vamos fechar as suas mentes. E vamos ensinar palavras, claro, mas ao mesmo
tempo também iremos ensinar o silêncio, porque depois que as palavras passam a
fazer parte da base, o silêncio torna-se difícil.
Você me procura, e o problema é o
seguinte: na base há palavras e agora você está tentando meditar e ficar em
silêncio – e a base está sempre lá. Sempre que você está em silêncio, a base
começa a funcionar. Então, você se torna consciente de que pensa demais quando
medita – ainda mais do que normalmente. Por quê? O que está acontecendo? Quando
você está em silêncio você vai para dentro de si e se torna mais sensível ao
absurdo interior que existe ali.
Quando você não está em meditação você
fica voltado para fora, fica extrovertido, envolvido com o mundo e você não
pode ouvir o barulho interior que ocorre dentro de você – sua mente não está
lá.
O ruído é contínuo dento de você, mas
você não pode ouvi-lo, você está ocupado. Mas sempre que fecha os olhos e olha
para dentro, o hospício se abre. Você pode ver e sentir e ouvir, e então fica
com medo e assustado. O que está acontecendo? E você estava pensando que a
meditação ia deixa-lo mais silencioso. E está acontecendo isso, exatamente o
oposto.
No começo é inevitável que isso
aconteça, porque uma base errada foi dada a você. Toda a sociedade, seus pais,
seus professores, suas universidades, sua cultura, deram-lhe uma base errada. Você
já foi corrompido, sua fonte está envenenada. Esse é o problema – como
desintoxicar você. Leva tempo, e uma das coisas mais difíceis é se livrar de
tudo o que você conheceu - desaprender.
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