24 de mai. de 2013

Meios e fins III


Sutra:
Onde posso encontrar um homem que se esqueceu das palavras?
É com ele que eu gostaria de conversar.

Pode não ser tão fácil convencê-lo a falar, mas só de estar perto dele, só se sentar ao seu lado, já seria uma comunhão, será uma comunhão, a mais profunda possível. Dois corações se fundem um no outro.
Mas por que esse vício pelas palavras? Porque o símbolo parece ser real. Repita uma coisa, e aos poucos você vai esquecer que você não sabe. A repetição vai lhe dar a sensação de que você sabe.
Perceba... Se você vai ao templo pela primeira vez, vai na ignorância. É duvidoso. Você não sabe se esse templo realmente contém alguma coisa, se Deus está lá ou não. Mas vá todos os dias e viva repetindo o ritual, as orações. Com repetições contínuas a coisa vai para dentro da mente e você começa a sentir que esse é o templo, que Deus vive ali, que essa é a morada de Deus.
É por isso que cada religião insiste em ensinar as crianças o mais cedo possível, porque depois da infância é muito difícil converter as pessoas para que passem a fazer coisas tolas, é muito difícil.
A criança deve ser convertida para ser hindu, muçulmana, cristã ou qualquer outra coisa, comunista, teísta ou ateísta, não faz diferença, mas agarre a criança antes dos sete anos.
Até essa idade a criança aprende quase cinquenta por cento de tudo o que ela vai aprender em toda a sua vida.
E esses cinquenta por cento são muito significativos, porque se tornam a base. Ela vai aprender muitas coisas, mas toda a estrutura será baseada no conhecimento que recebeu quando era criança. E, nesse momento, antes dos sete anos, a criança não tem lógica, não é argumentativa. Ela está confiando, explorando, acreditando. Ela não pode deixar de acreditar, porque não sabe o que é crença, nem o que é descrença.
Quando a criança nasce, ela não tem mente para discutir. Ela não sabe o que é argumento. Tudo o que você diz é verdade, parece verdade, e, se você repetir, a criança fica hipnotizada. É assim que todas as religiões têm explorado a humanidade. A criança tem que ser forçada a um padrão e, quando o padrão está profundamente enraizado, nada pode ser feito. Mesmo se mais tarde a criança mudar de religião, nada vai mudar.
Converta um cristão ao hinduísmo e lá no fundo ele continuará a ser um cristão, porque você não pode mudar a base. Você não pode fazer dele uma criança novamente, você não pode fazê-lo inocente. Esse momento já se foi.
Se a Terra um dia for religiosa, então não vamos ensinar mais o cristianismo, o hinduísmo, o islamismo ou o budismo. Esse é um dos maiores crimes cometidos. Nós vamos ensinar religiosidade, vamos ensinar meditação, mas não seitas. Não vamos ensinar palavras e crenças, vamos ensinar um modo de vida, vamos ensinar felicidade, vamos ensinar êxtase.
Nós vamos ensinar como olhar as árvores, como dançar com as árvores, como sermos mais sensíveis, como sermos mais vivos e desfrutarmos das bênçãos que a existência nos deu – mas não palavras, nem crenças, nem filosofias, nem teologias. Vamos deixar as crianças na natureza; esse é o templo, a igreja de verdade.
Vamos ensinar as crianças a olhar para as nuvens flutuantes, para o nascer do sol, para a lua à noite. Vamos ensiná-las a amar, e vamos ensiná-las a não criar barreiras para o amor, para a meditação, para a religiosidade. Vamos ensiná-las a ser abertas e vulneráveis, não vamos fechar as suas mentes. E vamos ensinar palavras, claro, mas ao mesmo tempo também iremos ensinar o silêncio, porque depois que as palavras passam a fazer parte da base, o silêncio torna-se difícil.
Você me procura, e o problema é o seguinte: na base há palavras e agora você está tentando meditar e ficar em silêncio – e a base está sempre lá. Sempre que você está em silêncio, a base começa a funcionar. Então, você se torna consciente de que pensa demais quando medita – ainda mais do que normalmente. Por quê? O que está acontecendo? Quando você está em silêncio você vai para dentro de si e se torna mais sensível ao absurdo interior que existe ali.
Quando você não está em meditação você fica voltado para fora, fica extrovertido, envolvido com o mundo e você não pode ouvir o barulho interior que ocorre dentro de você – sua mente não está lá.
O ruído é contínuo dento de você, mas você não pode ouvi-lo, você está ocupado. Mas sempre que fecha os olhos e olha para dentro, o hospício se abre. Você pode ver e sentir e ouvir, e então fica com medo e assustado. O que está acontecendo? E você estava pensando que a meditação ia deixa-lo mais silencioso. E está acontecendo isso, exatamente o oposto.
No começo é inevitável que isso aconteça, porque uma base errada foi dada a você. Toda a sociedade, seus pais, seus professores, suas universidades, sua cultura, deram-lhe uma base errada. Você já foi corrompido, sua fonte está envenenada. Esse é o problema – como desintoxicar você. Leva tempo, e uma das coisas mais difíceis é se livrar de tudo o que você conheceu - desaprender.

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