20 de fev. de 2013

Três pela manhã



Hoje falaremos um pouco mais sobre a mente...
A primeira coisa a ser entendida é: a mente humana é como a do macaco. É uma observação de longa data que a mente humana tem os mesmos padrões que a mente do macaco. Só raramente acontece de você transcender sua condição de macaco.
Quando a mente se aquieta, quando a mente fica silenciosa, quando não há, na verdade, nenhuma mente, você transcende o padrão “parecido com o do macaco”.
E qual é o padrão “parecido com o do macaco”¿ Por . E a um lado, o macaco nunca fica parado. E a menos que você esteja parado, não pode ver a verdade. Você está oscilando, se mexendo tanto, que nada pode ser visto.
A percepção clara é impossível. Enquanto medita, o que você está fazendo¿ Está colocando o macaco numa postura de silêncio, daí todas as dificuldades da meditação. Quanto mais você tenta fazer com que a mente se aquiete, mais ela se revolta, mais ela começa a ficar turbulenta, mais inquieta ela fica.
Você já viu um macaco sentado quieto e silencioso¿ Impossível! O macaco está sempre comendo alguma coisa, fazendo algo, balançando, conversando. Isso é o que você está fazendo. O homem inventou muitas coisas. Se não há nada para fazer, ele vai mascar chiclete; se não há nada para fazer ele vai fumar. Essas são pequenas ocupações tolas, ocupações de macaco.
Algo tem de ser feito continuamente, de modo que você permaneça ocupado.
Dia após dia, a mente continua em atividade, ela não para, continua a funcionar da mesma maneira. Existe uma conversa interior constante, você continua a falar consigo mesmo, e não há nenhuma surpresa que você fique entediado.
Olhe para o rosto das pessoas e você vai entender. Você chama isso de estar vivo¿ Assim, morto de tédio, arrastando-se... As pessoas estão apenas se arrastando.
A vida é tão bela, a morte também é tão linda – arrastar-se é feio.
Mas porque você parece tão sobrecarregado¿ Porque a vibração constante da mente dissipa a energia. A vibração constante da mente é um vazamento constante no seu ser. Você nunca tem energia suficiente para se sentir vivo, jovem, renovado...
O que você está fazendo dentro da mente¿ Continuamente armando esquemas: fazer isso, não fazer aquilo, construir sua casa, passar desse negócio para outro, porque vai haver mais lucro; trocar esta mulher, esse marido. O que você está fazendo¿ Apenas mudando o arranjo.
Você pode até não compreender, mas, quando um mendigo ou um imperador morre, o total deles é o mesmo. O mendigo viveu nas ruas, o imperador viveu nos palácios, mas o total deles é o mesmo. Um homem rico, um homem pobre, um homem de sucesso e um fracassado, o total é o mesmo. Se você conseguir olhar para o total da vida, então vai entender o que Chuang Tzu quer dizer.
O que acontece¿ A vida não é imparcial, a vida não é parcial, a vida é absolutamente indiferente aos arranjos – não se preocupa com os acordos que você faz. A vida é uma dádiva. Se você mudar o esquema, o total não é alterado.
Um homem rico se alimenta melhor, mas não tem mais fome. Ele tem uma bela cama, mas com a cama vem a insônia; ele não consegue dormir. Ele tem melhores condições para dormir, mas isso não está acontecendo – ele não consegue adormecer. Ele mudou o esquema das coisas.
O mendigo dorme na rua. Os carros estão passando e o mendigo está dormindo. Ele não tem cama. O lugar onde ele dorme é duro e desconfortável, mas ele está dormindo. O mendigo não consegue se alimentar bem, é impossível, porque ele tem que pedir esmolas. Mas ele tem bom apetite. O resultado total é o mesmo.
Só uma consciência meditativa pode olhar para o todo, do nascimento à morte.
É assim que sua mente funciona, você só muda o esquema das coisas. Mas você nunca olha o total. Somente a meditação pode ver o total A mente olha para o fragmento. É por isso que sempre que você sente prazer, você mergulha de cabeça imediatamente, nunca pensa à frente. Esta tem sido a sua experiência, mas você não tem tomado consciência dela - sempre que há prazer existe a dor oculta nele. Mas a dor virá à tarde e o prazer está aqui pela manhã.
Você nunca olha para o que está oculto, para o que está invisível. Você só olha para a superfície, e enlouquece. Você faz isso durante toda a sua vida. Um fragmento captura você.
Dizem que aqueles que sabem, nunca se casarão. Mas como você pode saber o que acontece no casamento sem se casar¿
Perceba... Você olha para uma pessoa, para o fragmento, e no final, às vezes, quando pensa sobre isso, o fragmento parece muito tolo.
A cor dos olhos – que loucura! Como a sua vida pode depender da cor dos seus olhos ou da cor dos olhos de outra pessoa¿ Então você fica louco e pensa: “Se eu não me casar com esta pessoa minha vida está perdida”.
Mas você não vê o que está fazendo. Não se pode viver com base na cor dos olhos para sempre. Dentro de alguns meses você vai se acostumar com a cor dos olhos e vai esquecê-los. Então vai existir toda a vida, a totalidade dela, e aí começa a infelicidade. Antes da lua de mel já está tudo acabado, a tristeza começa; a pessoa total nunca é levada em conta – a mente não pode ver o total.
Ela só olha para a superfície, a aparência, o rosto, o cabelo, a cor dos olhos, a forma do quadril, o jeito como a pessoa fala, o som de sua voz. A mente analisa fragmentos, e você fica fisgado pelos fragmentos.
Depois que está fisgado, o total aparece – o total não está muito longe. Os olhos não são um fenômeno separado, eles fazem parte do todo. Se você foi fisgado pelos olhos, você fica preso à pessoa como um todo. E quando esse todo emerge, tudo se torna feio.
Mas quem é o responsável¿ Você deveria ter se dado conta do todo. Mas quando é de manhã, a mente olha para a manhã e se esquece completamente da tarde. Lembre-se bem: a tarde se esconde em cada manhã. A manhã está constantemente se transformando em tarde e nada pode ser feito quanto a isso.


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